Origens
da Peregrinação
No
mundo antigo, as peregrinações, consideradas no geral e desde um ponto de vista
histórico e religioso, faziam referência a uma viagem empreendida individual ou
colectivamente para visitar um lugar santo, uma cidade ou um templo consagrado
pela recordação ou pela presença de um herói, de uma divindade ou de um poder
sobrenatural.
A
peregrinação, assim considerada, encontra-se assim desenvolvida em quase todas
as religiões e culturas, desde a pré-história até os mais elevados círculos
religiosos e culturais. Paralelamente a este fenómeno da peregrinação, está o
da transladação dos restos ou relíquias do herói para beneficiar-se, pela
influência da sua proximidade, em momentos de muito perigo.
As Peregrinações
Cristãs
As
peregrinações entre os cristãos têm as suas raízes no Antigo Testamento com
Abraão como modelo e, com o proceder do povo de Israel que peregrinou (Êxodo,
culto em Jerusalém, etc.). Jesus seguiu este mesmo costume peregrinando a Jerusalém.
A
Igreja, nos seus começos, seguiu a praxis de Israel: visitavam-se e
veneravam-se os Santos Lugares (sobretudo até o ano 66) que aparecem no Novo
Testamento como testemunhas de presença de Jesus e que foram santificados com a
sua morte.
Posteriormente,
as cruzadas, surgem em modo de peregrinações armadas, que se põem em marcha em
1095, quando os muçulmanos ameaçavam cortar o acesso, aos cristãos, aos Santos
Lugares. A peregrinação aos Santos Lugares permanece viva nos nossos dias.
O
culto aos Santos e as suas relíquias, começa com o culto aos mártires,
considerados como testemunhas da nova fé, celebrando as suas virtudes
cristianas, o seu valor, dignidade e o seu testemunho que selam com a sua
própria vida.
Sobre
os túmulos dos mártires levantaram-se basílicas que se enchiam de fiéis no dia
de seu aniversário (que não correspondia com o dia do seu nascimento, como no
caso dos pagãos, mas com o do seu martírio”dies natalis”). Ao princípio, o
culto tinha um carácter estritamente local, mas rapidamente acudiram
verdadeiras multidões, a vezes de regiões remotas. A invocação aos mártires
podia se realizar em qualquer lugar mas, era sem dúvida, no seu túmulo onde
esta invocação tinha mais eficácia e onde se prodiziam os feitos milagrosos
mais relevantes.
Peregrinar
não é apenas andar
Ao
optar-se por este enfoque é necessário o vincular com a causa que o gerou. As
vezes, frequentemente, encontram-se orientações que caem neste reducionismo,
sobretudo depois da declaração feita pelo Conselho da Europa ao declarar o
Caminho de Santiago como Primeiro Itinerário Cultural Europeu. Sem a dimensão
da fé não existiria a dimensão cultural. No caso de prescindir da fé estaríamos
a nos situar fora do que é peregrinar e careceria de sentido. Neste caso seria
apenas classificada como marcha, desporto, turismo, etc.
Primeiro
surgirão os peregrinos, depois o estímulo da Igreja e o Jubileu: No caso de São
Tiago, durante os primeiros séculos do cristianismo havia um culto local (como
se descobriu nas escavações de 1945-1957, ao aparecer um cemitério cristão
datado dos primeiros séculos, junto ao túmulo do Apóstolo). Nos inícios do
século XI, este culto deu-se a conhecer através do Sacro Romano Império,
posterior a Carlos Magno, a toda a Europa, que se sentia atraída pelo Túmulo
Apostólico de São Tiago. Com o fluxo, cada vez mais numeroso de peregrinos, os
Papas estimularam a peregrinação recomendando-a e oferecendo indulgências aos
peregrinos. Neste contexto surgiu a graça singular que foi o Jubileu
Compostelano concedido em 1122 por Calixto II, e confirmado especialmente
por Alexandre III em 1179.
Peregrinar
não é apenas andar sobre um caminho (no caso da peregrinação a pé) ou realizar
um determinado número de quilómetros; Trata-se de andar num caminho motivado
“por” ou “para algo”. Tem a peregrinação um sentido motivador e uma riqueza
pessoal e religiosa que é necessário descobrir.
A
peregrinação pode fazer-se por qualquer caminho e por qualquer meio de
transporte, sempre que se tenha a intenção de a realizar e que se respeitem as
condições estabelecidas.
Finalidade
da Peregrinação
O Homem na sua vida é, definitivamente, um peregrino: um ser em busca de si mesmo, da sua própria identidade e da transcendência (Homo viator). É por isso que a peregrinação aporta o carácter simbólico de plasmar visivelmente o caminho que se recorre interiormente. O que constitui a alguém em peregrino? É a intencionalidade que tem o que realiza a peregrinação com fé; a isto há que juntar-se o cumprimento das condições e o significado que lhe atribui a Igreja.
O Homem na sua vida é, definitivamente, um peregrino: um ser em busca de si mesmo, da sua própria identidade e da transcendência (Homo viator). É por isso que a peregrinação aporta o carácter simbólico de plasmar visivelmente o caminho que se recorre interiormente. O que constitui a alguém em peregrino? É a intencionalidade que tem o que realiza a peregrinação com fé; a isto há que juntar-se o cumprimento das condições e o significado que lhe atribui a Igreja.
Os
santos, que são o modelo dos crentes, concebem o tempo da vida como uma
passagem, a Bíblia utiliza expressões como as de um povo nómada, que hoje
coloca a sua tenda aqui e amanhã noutra parte. Santa Teresa de Jesus escrevia
que a vida é ”como uma noite em uma má pousada”.
Em
resumo, o tempo da nossa vida é como uma peregrinação que tem um ponto de
partida, um caminho que recorrer e uma meta a que devemos chegar: somos ”homo
viator”.
Condicionantes
e circunstâncias actuais da peregrinação
O Homem vive numa sociedade complexa e condicionante. Nesta sociedade o homem preocupou-se em a organizar e pretendeu emancipar-se da sua existência. Em grande medida o homem reduziu o drama da sua existência ao desenvolvimento do processo produtivo e aos desequilíbrios que este leva consigo.
O Homem vive numa sociedade complexa e condicionante. Nesta sociedade o homem preocupou-se em a organizar e pretendeu emancipar-se da sua existência. Em grande medida o homem reduziu o drama da sua existência ao desenvolvimento do processo produtivo e aos desequilíbrios que este leva consigo.
No
entanto, para o “Homo religiosus”, a sua inquietude central transcende. A vida
não é apenas a espera do fim, senão uma peregrinação como visão antecipada.
Necessitamos explorar o nosso mundo interior, descobrir em si mesmo o eco da
harmonia.
O
sentido espiritual da Peregrinação
A
tradição das peregrinações cristãs tem as suas raízes na concepção
peregrinatória do povo de Israel: Um povo que ao encontrar a liberação da
realidade que o oprimia, ao peregrinar pelo deserto, adquire consciência de
povo em caminho, peregrina pela vida até a terra da promessa. Jesus viveu este
ambiente e ele mesmo peregrinou como faziam no seu tempo os judeus observantes.
No
Novo Testamento, até o ano 66 as comunidades cristãs podiam peregrinar ao
Templo de Jerusalém. Posteriormente, as constantes persecuções e consequentes
destruições da cidade, fizeram impossível a visita aos Santos Lugares. Mais
tarde, com o estabelecimento da paz, no século IV, e a reconstrução dos Santos
Lugares evocadores dos Actos sagrados do Antigo e do Novo Testamento, começam a
ser visitados e revitalizados como centros privilegiados de peregrinação. O
contacto com estes lugares provoca no peregrino a ânsia de inserir-se na mesma história
de salvação.
A
peregrinação supõe uma certa ruptura com o mundo e com a “pátria”, evoca a
figura de Abraão, nosso pai na fé, que se pôs a caminho até a terra prometida
por Deus. A atitude do patriarca convida a considerar a vida terrena como um
exílio: “longe do Senhor”. O peregrino que se põem a caminho, motivado pela fé
e a esperança, vai descobrindo a sua comunhão com os que o precederam e com os
que na actualidade peregrinam e desta maneira se torna “concidadãos dos Santos
e membros da casa de Deus”.
O
Homem é, por natureza, “viator” já que não tem na terra uma cidade permanente,
antes anda a procura da do futuro. A aspiração mais profunda do homem é a de
alcançar a Deus. E antes de alcançar esta meta, o Homem que se encontra
exilado, longe do Senhor, descobre que o caminho é duro e, frequentemente, é um
andar as apalpadelas. No entanto, neste caminhar, o Senhor vai abrindo o
caminho. Ele mesmo se faz: “Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida” (João 14, 6).
A
reflexão cristã convida a que cada um se considere a si próprio como um
“peregrino”, isto é, um estrangeiro, alguém que habita em terra estranha e que
caminha para a pátria definitiva que se alcança através do Pai, através da
morte. A comparação entre a vida terrena como peregrinação e a celestial foi
frequente em S. Paulo, bem como nos escritores e ascetas cristãos de todos os
tempos.
(Del blog São João da Cruz dos Caminhos)
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