Catedral de Santiago de Compostela: devoção e beleza
© Fachada do Obreiro (imagem cedida por TURGALICIA).
Santiago de Compostela é o lar espiritual de Espanha. Para muitos cristãos, a peregrinação à catedral de Santiago só rivaliza com uma visita à Terra Santa. Com mais de cem mil visitantes por ano, é um dos destinos de peregrinação no mundo que cresce a maior ritmo. A catedral de Santiago de Compostela está localizada ao fim do antigo caminho de peregrinação medieval, o Caminho de Santiago. A descoberta do alegado sepulcro do apóstolo Santiago, durante o reinado de Afonso II, foi um acontecimento da máxima importância na história da Europa e principalmente dos conflituosos territórios da Península Ibérica. Segundo uma lenda local, em 813 um ermitão localizou seu túmulo num local indicado por uma chuva de estrelas, ou Campus Stellae (campo de estrelas) - expressão que dá origem a Compostela.
O local sagrado se tornou um centro milenar de peregrinação cristã da Europa e foi fator determinante para colocar a Espanha dentro dos círculos medievais graças à catedral dedicada a Santiago Maior, atual padroeiro e protetor do Reino da Espanha. A prática da peregrinação era fruto de uma sociedade religiosa e sacralizada interessada no culto das relíquias como meio de contato com a divindade.
Ao visualizar a catedral, o visitante tem a sensação de estar frente a uma profusão de estilos. A ideia está certa: as duas maiores torres do conjunto datam do século 17, quando o Barroco estava em seu auge. No entanto, a fase barroca se sobrepôs a uma construção românica. O resultado são os ricos e ostentativos detalhes da fachada, quase em sua totalidade barroca, que contrasta com a concepção sóbria do edifício, marcado por arcos, pelas paredes maciças e pelas poucas janelas.
© Catedral de Santiago de Compostela (imagem cedida por Miguel Elói).
O estilo românico da catedral é fruto de uma campanha cultural empreendida com o objetivo de educar os fiéis e dar monumentalidade às relíquias dos santos, assim como a seus templos. Pretendia-se passar a mensagem de que somente quem vivesse de acordo com os preceitos da Igreja chegaria ao Paraíso.
© Vista da torre (imagem cedida por TURGALICIA).
A construção da catedral atual se deu entre os anos de 1075 e 1128, durante a Reconquista Cristã, na época de Cruzadas. Antes disso, havia uma primeira capela, proveniente do reinado de Alfonso II, feita entre os anos 791 e 842. Essa construção foi destruída nas lutas contra os Mouros. No ano de 872, iniciou-se a construção da nova basílica de pedra. Mas em 1012 essa basílica primitiva foi derrubada para dar inicio à catedral que conhecemos.
© Vista do Jardim (imagem cedida por TURGALICIA).
Seu estaleiro de construção serviu como uma grande escola de cantaria onde se formaram gerações de canteiros, que acabaram por se espalhar por toda Espanha. Os mestres pedreiros medievais eram os responsáveis por dar materialidade aos preceitos da Igreja e às palavras de Cristo através de ornamentos nas fachadas e paredes.
Eles tinham ainda permissão para criar um bestiário próprio com o objetivo de aterrorizar os fiéis. Para uma população quase totalmente analfabeta, essas obras eram o meio de aprender sobre a Bíblia e temer os demónios.
© Interior da Catedral (imagem cedida por Miguel Elói).
A fachada principal da catedral chama-se Obradoiro, o que significa "trabalho de ourives", devido à talha artística e detalhada dos pedreiros que a realizaram em princípios do século XVIII.
O famoso Pórtico da Glória é a única entrada românica e foi construído no século XI. Em sua estrutura de três colunas podemos ver figuras que contam histórias bíblicas, do Antigo ao Novo Testamento, do Gênesis ao Apocalipse. Os fiéis podiam visualizar, esculpidos em pedra, os principais personagens da história do cristianismo.
© Detalhe do Portal da Glória (imagem cedida por TURGALICIA).
A imagem de Daniel traz o que é considerado o primeiro sorriso a ser esculpido em pedra na Europa medieval. Atrás da coluna há uma escultura com a fama de deixar mais inteligente quem bater a cabeça ali três vezes. O visitante então cruza a igreja para contornar o altar principal e abraçar uma imagem do apóstolo. Depois, ainda deve seguir para uma visita às supostas relíquias de são Tiago.
© Bota-fumeiro (imagem cedida por Miguel Elói).
O famoso bota-fumeiro está ligado ao século XIV. A peça foi criada para solucionar o problema do cheiro dos peregrinos, que chegavam após dias de caminhadas e muitas vezes estavam havia dois anos sem se lavar. A peça, que é a maior do mundo, possui 1,60 m de altura e pesa 80 kg e encontra-se pendurada por uma corda com 30 metros de comprimento. Quando é utilizado, em ocasiões especiais, como no dia de Santiago (comemorado em 25 de julho), são necessários oito homens para balançá-lo.
© Porta interna (imagem cedida por TURGALICIA).
Durante o século XVI, a peregrinação começou a diminuir, consequência da Reforma protestante, e as portas da catedral se fecharam. Somente no século XX o caminho foi recuperado e hoje milhões de peregrinos percorrem as trilhas a pé, a cavalo ou de bicicleta. Muitos encaram a viagem como um ato espiritual e de meditação; outros são seduzidos pelos museus, culinária, monumentos históricos ou vinícolas do percurso. Não importa qual seja o motivo: o viajante será recompensado com uma das mais maravilhosas construções arquitetônicas da humanidade.
© Vitral (imagem cedida por Miguel Elói).
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