DEPOIS
DE COMPOSTELA
Por Roberto
Lima
Nossa
vida é uma busca constante. Gastamos boa parte do nosso tempo e da nossa energia
em projetos que nos preencham, que satisfaçam diferentes anseios e
necessidades. Existem, porém, outros projetos que também vão tomando forma ao
longo da vida, mas, que, absolutamente, não pensávamos neles até um tempo
atrás. Eles acontecem assim: são ideias teimosas, possibilidades desafiadoras
que não nos deixam em paz até que as encaremos!
Nesse
ponto, você está irremediavelmente preso a um sonho e a ele se dedica até
realizá-lo. Em junho de 2009 eu realizei um desses sonhos inéditos, que eu acalentava
e para o qual me preparava há vários anos: percorri o Caminho de Santiago de
Compostela, na Espanha.
A
decisão mexeu com minha rotina: planejei a viagem com muita antecedência,
cuidei de detalhes, fortaleci meu condicionamento físico e preparei com muita
disciplina a minha bagagem. Essa viagem já faz parte da minha história, pois
não se parece em nada com as outras que fiz, a passeio ou a trabalho, e, por
isso mesmo, ela foi tão incrível.
O poeta
Ivan Santtana escreveu que “viajamos porque dentro de nós há infinitas
estradas”. E foi assim que, em 2009, chegou o meu momento de cruzar a Espanha
inteira, de leste a oeste, na condição de peregrino: a pé, uma caminhada de
quase 800 quilômetros de lama, pedra, chuva, asfalto, albergues, solidão, mas
também oportunidade de conhecer novas e fascinantes pessoas do mundo inteiro.
E foram
muitas as perspectivas que se abriram para mim durante e depois de percorrer o
mesmo caminho que fizeram os discípulos de São Tiago ao levar seu corpo até as
terras gaulesas, onde ele foi enterrado.
Foi uma
grande aventura cumprida em exatos 32 dias de pura emoção, adrenalina,
surpresas e experiências que mexeram com todos os meus sentidos e, porque não,
foram definitivas em minha história de vida.Viver dias de peregrino foi algo
desafiador e espetacular.
Depois
de Compostela, não tenho mais dúvidas: o essencial é mesmo invisível aos olhos,
pois só se vê bem com o coração. O Caminho para mim foi um brinde a plenitude
do que é essencial nessa vida! Contemplar a criação de Deus. Perdoar (a mim e
aos outros).
Aprendi
que é preciso viver cada dia como se fosse o derradeiro e, por isso mesmo,
único e especialíssimo. Durante o Caminho pude sorver as bênçãos das
recordações e celebrar as delícias das novas amizades. Descobri a alegria de cada
alvorecer e me emocionei com a serena chegada da noite.
O
Caminho me fez renovar a alma, elevar o espírito e ser o mais bem aventurado
dos homens somente por ter tomado um banho. Pude sorrir inteiro com um
maravilhoso copo de água fresca, fui feliz assim como nunca imaginei
possível... Não tenho mais dúvidas: só se vê bem com o coração. Percorrer esses
800 quilômetros me fez entender que: as bolhas nos pés sempre saram; que no
meio do caminho existe gente que te ama mesmo você não entendendo a razão; que
a promessa do amor de Deus é para todas as raças, línguas e nações e que não há
por que eu me preocupar com o amanha, pois o caminho estará ali, para mim, para
todos, basta continuar.
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