sábado, 29 de agosto de 2009

Peregrinos de otras tierras

O Caminho de Santiago de Compostela
Por Elaine Fortes
O Caminho de Santiago de Compostela, é uma ancestral rota de peregrinação que se estende por toda a Península Ibérica até a cidade de Santiago no extremo oeste do Reino da Espanha. Você não pode seguir o caminho antes de ter se tornado o próprio caminho. O Caminho está lá e pertence a quem caminha. O primeiro passo na busca espiritual é esvaziar-se.
Caso você esteja buscando a comunhão com Deus é preciso deixar espaço para Ele entrar. O Caminho de Santiago é pessoal. O peregrino Caminha quando pode e não quando quer. Você é o protagonista deste filme ou novela que começa a atuar a cada segundo, minuto, hora, dia, a cada passo dado em direção a Santiago de Compostela. Também é o produtor, diretor e financiador.
A parte técnica é quase toda sua e há muito mais; porque você vai entrar em contato direto com a integração entre sua inteligência, vontade e o seu maravilhoso corpo, que neste caso específico vou chamar de máquina. O amor no seu mais intenso e verdadeiro significado é o que mais se aprende e apreende no Caminho de Santiago.
Um Caminho feito de muitos caminhos, pois ele pertence a todos os peregrinos que de acordo com a capacidade de entendimento muitas vezes usa os atalhos para chegar. Por dias e dias, se vive uma mistura de passado-presente e futuro, onde se ensina a viver cada minuto como se fosse a construção de um novo acordar, um nascituro de olhos abertos e prenhes de experiências e sabedoria, atributos que todos nós possuímos, mas muitas vezes tememos usar, por desconhecer seu poder ou o momento exato para exercitálo.
Chegar ali, na Velha Europa, pisando no aeroporto de Madrid e depois Lisboa a sensação que se tem é de estar em casa. A fé deixa o medo tão insignificante... Alguns que se dizem mais entendidos, marcam o início do Caminho de Santiago em Roncesvalles, na França, mas o tempo veio revelar que na verdade o caminho não tem começo, já que ele está dentro de cada um. Muitos serão chamados para fazê-lo, mas poucos serão escolhidos para compreendê-lo e absorver a energia luminosa advinda de Santiago.
O peso da mochila ensina que para viver se precisa de tão pouco e que a sobrevivência é mais uma questão de escolha do que de conforto. Peregrino é assexuado. Aquele que está realmente no caminho, não vê pessoas, mas seres humanos, com necessidades espirituais e carências materiais iguais ou maiores que as dele. Peregrino é aquele que anda por terras estranhas, mas sabedor do seu destino. O peregrino é a tradução fiel do que seja uma METAMORFOSE AMBULANTE.
“Não tem explicação. Quem inspira o peregrino é seu próprio coração. Pois há que se crer...sempre.” O Caminho é de pedra, literalmente pedras traiçoeiras que falsearão os passos, e forçarão a ser sempre cuidadoso no pisar. Muitas vezes se surpreende falando sozinho, alto e sem uma certa coerência de pensamentos. O cajado é preciosidade. Não foi por acaso que Moisés usou um. O cajado é mágico, milagroso, sua terceira perna. O peregrino procura tratar mais da sua vida e do Caminho do que ficar questionando o porquê da vida e do Caminho de cada um. Enfim, a missa dos peregrinos é benção sem igual.
Nas badaladas ensurdecedoras de sinos milenares e gigantescos, os peregrinos são convidados a celebração da eucaristia. Existe uma necessidade extrema de comungar, mesmo sem a confissão, como se a comunhão assumisse o papel silencioso do pedido de volta aos braços do Senhor, pedindo a proteção eterna do BOM PASTOR, que mesmo os descrentes sabem, nem é bondoso, pois é a própria bondade. É um rolar de lágrimas, um fungar tão sagrado que não irrita e nem atrapalha os inconfundíveis cantos gregorianos. Sem medo de exagerar ou estar enganada, confesso que senti estar muito perto, mas muito perto mesmo do que seja o tão almejado paraís.

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